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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O mundo do jornalismo aos olhos de Pedro Coelho

Foi aos 14 anos que Pedro Coelho, actual jornalista do universo SIC, decidiu enveredar o caminho do jornalismo. Actualmente, com 44 anos, conta com um curriculum notável e por isso são muitos os que lhe prestam homenagem com a atribuição de prémios e distinções. Pedro Coelho lecciona na faculdade de Ciências Humanas e Socais da Universidade Nova de Lisboa e garante que a melhor recompensa que lhe podiam oferecer seria “Que os jovens jornalistas tivessem a humildade de aprender. E que não concluíssem que já sabem tudo”.


Fonte: Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNL
http://www.fcsh.unl.pt/deps/ciencias-da-comunicacao/docentes/pedro-coelho

Andreia Roberto (AR) - O que o levou a seguir a área das Ciências da Comunicação?
Pedro Coelho (PC) - Foi a pensar no jornalismo. Aos 14 anos decidi-me, em definitivo, pelo jornalismo.

AR - Actualmente gosta da sua profissão, ou se tivesse oportunidade trocaria o jornalismo por outra área?
PC - Continuo a gostar, cada vez mais, de ser jornalista, ainda que os rumos da profissão já não me encantem.

AR - O que significa ser-se jornalista?
PC - É estar sempre disponível para descobrir novidades que possam, depois de difundidas de acordo com princípios éticos claros, informar as pessoas. E informar significa – formar as pessoas.

AR - Segundo constatei ,  foi aos 19 anos que iniciou a sua carreira jornalística. Na sua opinião um jornalista para ser  reconhecido e vingar no mercado de trabalho tem de começar a “colaborar e trabalhar” desde muito cedo?
PC - Não necessariamente. Às vezes temos um jornalista dentro de nós e nem sabemos. E há quem viva anos com essa inquietação lá dentro. Ser jornalista também é um estado de espírito.

AR - Habituámo-lo a ver mais na condição de repórter, aos domingos, na Grande Reportagem, inserida no jornal da noite do universo Sic. O seu trabalho surgiu de forma natural ou foi o reflexo de uma preferência manifestada? 
PC - Sou, acima de tudo, um jornalista-repórter. Gosto de contar histórias inteiras. Histórias que informem as pessoas e que as ajudem nos respectivos percursos de vida.

AR- Por muitos é considerado o curso da moda , de facto, todos os anos centenas de jovens tentam a sua sorte e a média de entrada torna-se bastante elevada, sobretudo no distrito de Lisboa. Numa altura em que todos os sectores têm sido afectados pela crise, o sector da informação não foge à regra. Porque é que os jovens cada vez mais tencionam ser jornalistas?  Será o trabalho em televisão que desperta curiosidade? Ou, será que os jovens pensam que trabalhar em televisão é um veículo para atingir a fama?
PC - De facto acho que a maioria dos jovens que quer ser jornalista não quer se-lo pelas melhores razões. As relativas à televisão, que enuncia, são as mais recorrentes. Atingir a fama facilmente (é o que muitos pensam!), alimentar a ilusão e a vaidade pessoais… enfim. As razões mais nobres parecem, cada vez mais, fora de moda.

AR - Assim que terminou a sua licenciatura sentiu que deveria trabalhar em grupos de renome?  Estaria disposto  a “atirar-se” a todas as oportunidades que se cruzassem no seu caminho?
PC - Quando terminei o meu curso pude escolher. E como queria muito trabalhar em rádio sujeitei-me a trabalhar num grupo pequeno. Rejeitei um convite de um grupo de renome, porque o que queria mesmo era a rádio.

AR - No seio de uma sociedade informada, fruto de uma revolução digital, os media vêem-se “ameaçados e manipulados”  pelos grandes conglomerados que assim se incorporam por todo o lado. Será que este impacto contribuiu para o rigor informativo ou pelo contrário, só prejudicou?
PC - Acho que uma coisa e outra não têm de andar associadas. Os novos media podem servir para reforçar o bom jornalismo. Infelizmente assistimos ao contrário.

AR - Como já referi anteriormente, vivemos na Era Digital , as tecnologias ganham importância e poder e, assim, as notícias propagam-se mais rapidamente. Será que o jornal impresso está “à beira da morte”?
PC - Não. Terá apenas de se reformular. A complementaridade entre os media irá promover a alteração dos formatos e dos conteúdos por eles transmitidos. O jornal terá tendência para ser um produto de luxo onde vamos buscar o que está para lá da espuma dos dias.

AR - Falando em novas tecnologias e em meios digitais, com esta transformação sente que os jornalistas perderam credibilidade e são desvalorizados na sociedade?
PC - Corre-se mais esse risco, porque há muita gente a produzir informação e os papéis, inevitavelmente, confundem-se, mas não me parece que os novos media tenham essa condicionante. Pelo contrário – a multiplicidade de informação na rede exige jornalistas cada vez mais credíveis.

AR - A comunicação social atravessa um período crítico. Qual o futuro dos media?
PC - Não tenho bola de cristal mas uma sociedade sem MCS fortes, acitivos e promotores de cidadania é uma sociedade doente.

AR - Na sua profissão já atingiu todos os seus objectivos ou, ainda, tem de percorrer por muitos caminhos ?
PC - Todos os dias sinto que ainda me falta fazer tudo. Todos os dias tenho a humildade de querer fazer mais e de querer saber mais.

AR - Para finalizar, Qual a melhor recompensa que lhe podiam oferecer? E quais os seus conselhos aos jovens universitários, pseudo-jornalistas?
PC - Que os jovens jornalistas tivessem a humildade de aprender. E que não concluíssem que já sabem tudo.

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